Lula instala o CNPM e reforça papel estratégico das terras raras — impacto vital para Roraima
Com a criação do CNPM, governo federal inaugura uma nova política de mineração estratégica. Estado de Roraima, dono de uma das maiores reservas de terras raras do mundo, ganha protagonismo no cenário geopolítico e energético internacional.

Na quinta-feira, 16 de outubro de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da sessão inaugural do Conselho Nacional de Política Mineral (CNPM), órgão criado em 2022, mas até então sem funcionamento efetivo. A instalação marca um passo decisivo no planejamento da mineração estratégica — especialmente de minerais críticos e terras raras — e assume importância singular para Roraima, estado que hoje figura entre os detentores de uma das maiores concentrações minerais desse tipo no planeta.
O CNPM será composto por representantes de 18 ministérios, sob a presidência do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e terá atribuições equivalentes às do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Na abertura, Silveira afirmou que o novo órgão deliberará diretrizes de política pública para o setor mineral e dará suporte à Agência Nacional de Mineração (ANM) na implementação dessas políticas.
Entre os temas de maior relevância para o CNPM estão: aprovação do Plano Nacional de Mineração para o período 2025-2050, definição de estratégias para minerais críticos e estratégicos, mineração sustentável e a articulação entre segurança energética, alimentar e o desenvolvimento industrial do país.
Roraima no centro da disputa mineral
Enquanto o Brasil como um todo detém cerca de 10% das reservas mundiais de minerais críticos — segundo dados do IBRAM —, o estado de Roraima emerge com destaque por concentrações excepcionais de terras raras em sua porção amazônica.
No município de Caracaraí, foi identificado o Complexo Barreira, com mais de 100 mil hectares sob estudo, que abriga concentrações recordes de elementos como európio (2.890 ppm), neodímio (1.090 ppm), ítrio (1.600 ppm) e iterbio (160 ppm) — níveis entre 10 e 50 vezes maiores que os depósitos convencionais, segundo relatórios locais.
Além das terras raras, o complexo mineral também contém metais do grupo da platina, como irídio, ródio e paládio, bem como minerais críticos como gálio, vanádio, tântalo, nióbio, tungstênio e rênio, o que reforça a magnitude estratégica da reserva.
A descoberta, considerada uma das maiores já registradas, coloca Roraima no epicentro da geopolítica mineral global — justamente quando países como Estados Unidos, Japão e membros da União Europeia buscam fontes alternativas para reduzir dependência da China no fornecimento desses insumos.
A dimensão da decisão presidencial para Roraima
Para Roraima, o momento é singular: a instalação do CNPM significa institucionalização de uma política nacional de mineração que pode favorecer, entre outras providências, a regulamentação e o fomento à exploração mineral estruturada — garantindo que o estado, e não somente terceiros, se beneficie das riquezas subjacentes.
Esse cenário assume ainda mais peso diante das concentrações excepcionalmente elevadas identificadas no Complexo Barreira. A norma passa a poder orientar critérios de licenciamento, fiscalização, compensações (como CFEM – Compensação Financeira pela Exploração Mineral) e mecanismos de valor agregado (processamento local, industrialização) que impactarão diretamente os territórios do estado.
Se bem conduzido, o processo poderá gerar receitas expressivas, empregos qualificados, infraestrutura e reconversão tecnológica regional — rompendo o ciclo histórico em que regiões ricas em recursos naturais são meramente exportadoras de matéria-prima.
Riscos e desafios ambientais e sociais
Mesmo com o grande potencial econômico, a exploração de terras raras exige cautela rigorosa. Em regiões amazônicas, riscos como desmatamento, contaminação de corpos hídricos, impactos irreversíveis nos ecossistemas e conflitos territoriais com populações indígenas ou comunidades tradicionais são reais e devem ser tratados desde já.
No caso de Roraima, parte dessas áreas de estudo já está relativamente afastada de unidades de conservação e terras indígenas, segundo relatos preliminares. Contudo, o diálogo com povos indígenas (como os Yanomami e outros grupos presentes em RR) e com os órgãos ambientais será fundamental para garantir que o aproveitamento dos recursos ocorra dentro dos limites da legalidade e da sustentabilidade.
Outro ponto crítico é a capacidade de beneficiamento interno. O Brasil, apesar de possuir reservas significativas, participa de forma muito restrita na produção global de terras raras — menos de 0,1% da produção mundial, embora detenha 19% das reservas, segundo algumas fontes regionais para Roraima. Sem infraestrutura de refino e tecnologias de separação, grande parte da riqueza pode ser perdida no modelo exportador bruto.
Perspectiva geopolítica e diplomática
A aposta em uma política mineral integrada e estratégica — com protagonismo do CNPM — torna-se um instrumento de diplomacia econômica. O Brasil poderá oferecer ao mundo suprimentos menos dependentes da hegemonia chinesa e, assim, negociar parcerias tecnológicas e investimentos em troca de acesso ou cooperação em mineração.
O ministro Alexandre Silveira já antecipou que haverá diálogo com os Estados Unidos sobre exploração de minerais críticos. Dentro de cerca de 40 dias, o governo planeja criar um “Conselho Especial de Minerais Críticos e Estratégicos” com mandato específico de assessorar o presidente nessas matérias.
Para Roraima, isso significa estar bem posicionado para participar dessas negociações. Se o estado conseguir garantir instrumentos de governança local — por meio de leis estaduais, participação nos conselhos e fiscalização — pode assegurar que parte substancial do valor gerado permaneça no território.
Em suma, a decisão de Lula de ativar formalmente o CNPM adquire contornos centrais para Roraima: não é apenas um ato administrativo, mas um movimento estratégico que pode transformar a condição de um estado rico em minerais raros, hoje relegado ao silêncio político, em protagonista de uma nova etapa de integração entre mineração, soberania e desenvolvimento regional.
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