Maria Corina Machado recebe o Nobel da Paz de 2025 por sua luta pela democracia na Venezuela
Reconhecida por seu ativismo e coragem frente ao regime de Nicolás Maduro, a líder opositora é homenageada pelo Comitê Norueguês do Nobel como símbolo de resistência democrática na América Latina.

A líder opositora venezuelana Maria Corina Machado foi anunciada nesta sexta-feira (10) como a vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2025. O Comitê Norueguês justificou a escolha destacando o “trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo da Venezuela e na busca por uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”. O anúncio, feito em Oslo, ecoou em meio a um dos momentos mais sombrios da história política venezuelana, consolidando Machado como um ícone da resistência civil contra o regime autoritário de Nicolás Maduro.
Segundo o comunicado oficial divulgado na rede X (antigo Twitter), a premiação reconhece “uma mulher que mantém acesa a chama da democracia em meio à escuridão crescente da repressão e da censura”. O presidente do comitê, Jørgen Watne Frydnes, afirmou que Machado representa “um exemplo extraordinário de coragem e perseverança em tempos de opressão”, acrescentando que seu nome “relembra ao mundo que a liberdade exige sacrifício, mas também esperança”.
A homenagem chega em um momento delicado. Desde agosto de 2024, Maria Corina vive escondida, após denunciar publicamente fraude nas eleições presidenciais venezuelanas. Em carta publicada pelo The Wall Street Journal, ela afirmou possuir provas de que Nicolás Maduro perdeu o pleito e descreveu o processo eleitoral como “um golpe contra a vontade popular”. A líder opositora relatou temer por sua vida e pela segurança de seus aliados, muitos dos quais foram presos ou obrigados a entrar na clandestinidade.
O Comitê Norueguês reconheceu o risco que a laureada enfrenta. “Todos os anos discutimos o impacto da premiação em contextos de ameaça à vida. Neste caso, esperamos que o reconhecimento fortaleça sua causa, e não a limite”, disse Frydnes. O presidente do comitê afirmou ainda esperar ver Machado na cerimônia de entrega do prêmio em Oslo, em dezembro, mas admitiu que sua presença dependerá de sua segurança.
Maria Corina Machado construiu sua trajetória política com base no ativismo democrático. Fundadora da organização não governamental Súmate, foi responsável, em 2004, por mobilizar milhões de venezuelanos a assinar a petição que levou ao referendo revogatório contra o então presidente Hugo Chávez. Desde então, tornou-se uma das mais combativas vozes contra o chavismo e seu sucessor, Nicolás Maduro. Em 2012, durante um discurso de Chávez na Assembleia Nacional, protagonizou um dos momentos mais marcantes da política venezuelana ao interrompê-lo e dizer: “Expropriar é roubar”.
Ao longo das duas últimas décadas, enfrentou perseguições, proibições e campanhas de difamação. Em 2023, venceu as primárias da oposição com 93% dos votos, tornando-se a principal candidata da Plataforma Democrática Unitária. Entretanto, foi impedida pelo regime de concorrer às eleições presidenciais de 2024, sob a alegação de envolvimento em “atos de corrupção” durante o governo interino de Juan Guaidó — acusação amplamente contestada por observadores internacionais. Mesmo excluída do pleito, Machado permaneceu como símbolo de união e inspiração para a oposição venezuelana, rearticulando um movimento que parecia fragmentado.
Para analistas políticos, a escolha de Maria Corina Machado pelo Comitê Norueguês representa mais do que um reconhecimento individual — é uma mensagem global em defesa da democracia latino-americana. Em tempos de avanço do autoritarismo, a decisão resgata o papel do Nobel como um farol moral, lembrando que a luta por liberdade e justiça não tem fronteiras. Como afirmou Frydnes: “O prêmio à Sra. Machado é também um chamado à comunidade internacional para que não se cale diante da tirania”.
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