Imprensa Urgente
Checar fatos virou serviço de proteção à sociedade
Em uma semana, checadores desarmaram boatos que iam do pânico sanitário à manipulação de imagens de guerra — e mostraram o preço humano da velocidade sem verificação.

FATO COMPROVADO — Entre 11 e 17 de outubro de 2025, verificadores profissionais identificaram e desmentiram uma série de conteúdos que circularam com grande rapidez nas redes sociais e em mensagens privadas, muitos com potencial de dano público imediato. Destaco três padrões claros e comprovados: boatos sanitários amplificados por vídeos virais; reutilização de imagens e vídeos antigos em contextos de conflito; e atribuições falsas feitas a instituições sérias para ancorar narrativas discriminatórias. Essas conclusões são sustentadas por checagens publicadas por Agência Lupa, Aos Fatos e Reuters Fact Check nas datas indicadas. (Lupa)
No caso mais alarmante em termos de saúde pública, um vídeo que circulou por WhatsApp e TikTok alegava que absorventes íntimos estariam contaminados e teriam causado mortes. A investigação da Agência Lupa concluiu que a alegação é falsa e que não há evidência que vincule mortes a esses produtos; a peça de verificação foi publicada em 17/10/2025 e documenta a ausência de origem verificável do vídeo viral. Esse tipo de boato tem potencial de gerar pânico sanitário e decisões de risco entre leitoras, o que torna a checagem imediata urgente. (Lupa)
Outra ocorrência recorrente na semana foi a reutilização de imagens e vídeos antigos como se fossem registros recentes do conflito em Gaza. A Aos Fatos demonstrou que ao menos um vídeo amplamente compartilhado como se tivesse sido filmado após um cessar-fogo foi, na verdade, gravado em janeiro de 2025 durante negociações de troca de prisioneiros; a peça de checagem identificou a origem e alertou para o volume de compartilhamentos acumulados até 14/10/2025. Esse tipo de reutilização altera a percepção do público sobre a cronologia dos fatos e pode agravar tensões reais. (Aos Fatos)
Em âmbito internacional, a Reuters desmontou publicações que atribuíram falsamente a um think tank suíço (DCAF) a conclusão de que “75%” da insegurança na África Ocidental seria causada por um único grupo étnico — afirmação que o órgão negou e que a Reuters classificou como falsa em 16/10/2025. Afirmações desse tipo têm alto potencial de alimentar narrativas étnicas violentas e exigem resposta rápida e documentada das redações. (Reuters)
Ainda no campo da polarização política e social, a Reuters verificou, em 14/10/2025, que um passeio de migrantes ao litoral britânico foi financiado por doações privadas de uma instituição de caridade, e não com fundos públicas, como algumas postagens sustentavam. Classificar corretamente a fonte do financiamento é relevante para evitar acusações infundadas contra políticas públicas e para mitigar flamas de ódio contra grupos vulneráveis. (Reuters)
ANÁLISE — O padrão observado é sempre o mesmo: a combinação de velocidade (posts que explodem em grupos e redes) com a facilidade de reaproveitar material antigo ou de atribuir declarações a fontes reconhecidas. Em muitos casos, a veracidade poderia ter sido checada com duas ou três medidas básicas (buscar a origem do arquivo, checar data de upload original, contactar a instituição citada). A checagem profissional atuou como mitigador de danos — não apenas corrigindo o registro público, mas evitando que decisões de saúde, de política pública ou hostilidade social fossem calibradas por boatos.
Recomendações práticas para redações e leitores — (1) publique sempre links primários e snapshots (Wayback/Perma.cc) quando relatar dados sensíveis; (2) trate boatos sanitários e afirmações que liguem grupos étnicos ou religiosos a crimes como de interesse público prioritário para verificação; (3) preserve provas (prints com carimbo de data, PDFs de página e links arquivados) antes que postagens sejam editadas ou removidas; (4) destaque nominalmente, no corpo da matéria, o tempo que a peça original permaneceu no ar antes de ser corrigida.
Fake News á brasileira
FATO COMPROVADO — Circulou nas redes sociais, entre 12 e 13 de outubro de 2025, a alegação de que o Decreto nº 12.604 conferiria à primeira-dama, Janja, poderes equivalentes aos do presidente da República. A checagem realizada pelo Aos Fatos em 13/10/2025 confirmou que a informação é falsa. O decreto apenas reorganiza a estrutura administrativa do gabinete da primeira-dama, garantindo apoio logístico e administrativo às suas atividades, sem conferir poderes executivos nem cargo oficial na linha de sucessão presidencial.
CRONOLOGIA ESSENCIAL — O Decreto 12.604 havia sido assinado anteriormente, conforme cobertura da mídia oficial. Após sua republicação recente, posts com interpretações exageradas passaram a circular com ampla repercussão. A checagem completa do Aos Fatos detalhou a natureza administrativa do decreto e esclareceu que não há mudança constitucional nem ampliação de poderes.
CITAÇÃO TEXTUAL — Conforme o Aos Fatos:
“Decreto 12.604 apenas reorganiza a estrutura do gabinete presidencial e garante apoio administrativo às atividades da primeira-dama; Texto não concede poderes constitucionais nem cargo oficial a Janja.”
Conclusão — Se a checagem virou serviço público, é porque a velocidade da desinformação passou a representar risco real — à saúde, à coesão social e ao debate democrático. Redações sérias precisam, portanto, integrar práticas de preservação de prova e rotinas de verificação reativas e proativas: verificar não é apenas corrigir depois — é impedir que o erro cause dano enquanto se propaga.
Nota metodológica e transparência — Todas as assertivas factuais desta coluna estão apoiadas em checagens públicas: Agência Lupa (absorventes — publicado em 17/10/2025), Aos Fatos (vídeo de Gaza — checagens em 14/10/2025) e Reuters Fact Check (DCAF e Margate — 16/10/2025 e 14/10/2025, respectivamente). Links e datas das checagens: Lupa — É falso que absorventes estão contaminados e causaram a morte de mulheres (17/10/2025). (Lupa) Aos Fatos — Vídeo que mostra tropas do Hamas nas ruas de Gaza não foi gravado após recente cessar-fogo (14/10/2025). (Aos Fatos) Reuters — Swiss think tank did not link 75% of West Africa’s insecurity to ethnic Fulani group (16/10/2025) e Private cash, not taxpayers’ money, funded migrants’ Margate trip (14/10/2025). (Reuters)
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