Hoje eu vou escrever uma crônica meio piegas sobre algo muito valorizado no século passado, mas que agora, tenho a impressão, passou a ser dispensável para grande parte das pessoas: o amor. Afinal, nos tempos correntes, o que é esse tal de amor? Seja o amor aquele sentimento ‘ultrapassado” que une duas pessoas que decidem compartilharem vida e corpos; ou o amor fraternal, aquele bem-querer profundo que sentimos (sentíamos) pelos nossos pais, irmãos, amigos e demais entes queridos que fazem parte da nossa vida. O que é o amor hoje em dia? Eis meu questionamento piegas de hoje.
A pergunta acima me veio à mente nesta última semana, quando ouvi uma pessoa que muito estimo dizer que é incapaz de amar, que não sente amor por ninguém. A afirmação causou-me perplexidade. Mas este não foi único motivo que me trouxe a essa reflexão. Confesso que prestes a virar a esquina dos meus 48 anos para os 49 que acenam logo ali, estou meio fora de contexto quanto a essa nova realidade em que ninguém é de ninguém e o que vale é por em prática os versos(?) de uma música, dessas quase inaudíveis para ouvidos mais exigentes. Falo do hit dos aplicativos de música e dos paredões de som que enaltece o hábito da galera jovem de “sentar sem sentimento”. A letra da “canção” é primorosa (#SQN) e diz muito sobre o tema desta crônica: “É que eu sento sento sento/ Sento sem sentimento / Se se apaixonar / Se prepara pro sofrimento”.
Acho que fiquei velho, ranzinza, fora de moda, precocemente, e não me dei conta. Porque eu ainda quero alguém que se entregue intimamente para mim com algum sentimento. De preferência, muito sentimento. Admito que este é um desejo ultrapassado. Afinal, nas relações modernas, o grande barato é o sexo sem compromisso do retorno. O que importa é satisfazer o desejo do agora sem o peso de ter que acordar no dia seguinte olhando para a cara amassada e babada do(a) parceiro(a), que faz um ou outro se perguntar: o que é que eu estou fazendo aqui? O prazer pelo prazer não deixa de ser uma proposta interessante, mas não se adequa muito bem a um coração piegas como o meu, que ainda se apaixona. E você, caro(a) leitor(a)?
Outro motivo, e este mais sério porque que diz respeito ao sentimento de empatia pelo outro, que deveria ser universal, é o descaso escancarado a partir da vinda do presidente Lula, para com a situação do Povo Indígena Yanomami. O abandono desta etnia de povos originários, com centenas dos seus morrendo de fome e e de doenças que poderiam ser evitadas, como vermes, é de cortar coração. Fico com lágrimas nos olhos e a alma aflita só de imaginar crianças morrendo asfixiadas por vermes por pura falta de assistência, quando o dinheiro destinado aos cuidados com a saúde indígena foi desviado para outras finalidades nada republicanas. Esta é uma demonstração inconteste da mais absoluta falta de amor para com o próximo.
Vivemos tempos nebulosos em que falta empatia para com o outro. Vivemos a era do cada um por si. Atravessamos dias em que renascem com força o fascismo, o racismo, a intolerância, a misoginia, o preconceito e tantas outras ideologias, sentimentos e posturas que mostram o lado mais obscuro do ser humano. Por isso, o que mais precisamos é ressuscitar o ultrapassado sentimento AMOR. Por mais piegas que possa parecer, digo que o amor se faz necessário em nossas vidas, como o ar que respiramos. O mundo fica quase insuportável onde impera o desamor. O ar fica pesado; a atmosfera, asfixiante. A vida vira um fardo. Por isso, faço um convite, um apelo, mesmo: deixemos o amor renascer em nosso coração. Assim, a vida fica menos monótona e passa a fazer mais sentido.