Na sessão ordinária desta terça-feira (15), a Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) derrubou 21 vetos encaminhados pelo Executivo, mantendo apenas dois. A maioria dos projetos afetados pelos vetos trata de temas de grande importância para a sociedade, como saúde, educação, inclusão, cidadania e direitos das pessoas com deficiência. A rejeição dos vetos reforça a autonomia do Legislativo e a capacidade dos parlamentares em determinar o direcionamento das políticas públicas no estado.
Durante a sessão, o primeiro vice-presidente da ALE-RR, deputado Jorge Everton (União), destacou a prerrogativa do parlamento em revisar e, quando necessário, rejeitar vetos do governo. “É importante que o Legislativo exerça sua função de fiscalização e controle sobre as propostas do Executivo. Alguns vetos que chegam aqui nos surpreendem e não fazem sentido algum”, afirmou o deputado, sugerindo a necessidade de maior diálogo entre a Casa Civil, a Procuradoria do Estado e os parlamentares.
Um dos projetos rejeitados foi o que institui o programa “Cuidar de Quem Educa” (PL nº 194/2024), que propõe políticas de bem-estar para os profissionais da educação da rede estadual. A autora da proposta, deputada Catarina Guerra (União), defendeu a constitucionalidade do projeto, argumentando que as alegações do governo não condizem com a legalidade. “As alegações de inconstitucionalidade não são consistentes, e a Procuradoria da Assembleia Legislativa não identificou nenhum vício na proposta”, declarou.
Outro projeto relevante que teve seu veto derrubado foi o que cria o “Mês da Juventude” no Estado de Roraima (PL nº 201/2024), a ser comemorado anualmente em agosto, em alusão ao Dia do Estudante (11 de agosto) e ao Dia Internacional da Juventude (12 de agosto). O projeto foi amplamente apoiado pelos parlamentares, que veem a importância de valorizar a juventude local.
A ALE-RR também demonstrou apoio significativo a causas de inclusão, com a derrubada de vetos a vários projetos voltados para o atendimento de pessoas com deficiência. O projeto que cria polos de atendimento especializado com salas de terapia para pessoas com autismo (PL nº 277/2022) foi uma das matérias defendidas pela deputada Ângela Águida Portella (Progressistas). Ela enfatizou a importância de garantir acolhimento e tratamento adequado para pessoas com autismo, especialmente adolescentes e adultos, que muitas vezes não têm acesso a esse tipo de atendimento.
Além disso, outros projetos de inclusão também tiveram seus vetos rejeitados, como o que institui o “Portal TEA” (PL nº 35/2024), o Programa Cidade Amiga do Autista (PL nº 193/2022) e a Carteira de Identificação da Pessoa com Deficiência (PL nº 266/2024). O deputado Marcos Jorge (Republicanos) defendeu que o projeto da CIPD facilita a vida das pessoas com deficiência, permitindo que elas não precisem renovar laudos constantemente.
Outro projeto que tratava da distribuição de medicamentos à base de canabidiol (CBD) para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (PL nº 120/2023) também teve o veto derrubado.
Na área da saúde, o veto ao projeto que altera a Lei nº 1.439/2020, proibindo a terceirização das unidades de saúde de média e alta complexidade, foi derrubado. O deputado Dr. Cláudio Cirurgião (União), um dos defensores da proposta, explicou que o objetivo não era impedir a terceirização, mas garantir que ela seja feita de forma constitucional, respeitando os direitos dos servidores públicos efetivos.
Também teve o veto rejeitado o projeto que estabelece diretrizes para a Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil (PL nº 252/2024), defendido pelo deputado Marcos Jorge.
A ALE-RR ainda rejeitou o veto ao projeto que veda a admissão de pessoas condenadas por inelegibilidade em cargos públicos estaduais (PL nº 159/2023), enfatizando a importância de garantir um “ficha limpa” também para cargos comissionados.
Outros projetos relevantes
Outros vetos rejeitados envolvem projetos como a inclusão da Semana de Enfrentamento às Apostas e Jogos de Azar no calendário oficial do estado, a criação de um programa de central de atendimento ao cidadão (RR Conecta), e a instalação de dispositivos sonoros em transportes públicos intermunicipais. Também foi derrubado o veto ao projeto que proíbe tomadas e pontos de energia em unidades prisionais, medida defendida pelo deputado Jorge Everton, que ressaltou a experiência como ex-diretor da Penitenciária Agrícola.
Os parlamentares não pouparam críticas ao governo estadual pelos vetos enviados à ALE-RR. O deputado Isamar Júnior (Podemos) questionou a frequência dos vetos e sugeriu que é necessário um maior entendimento entre o Executivo e o Legislativo para garantir que os projetos que reforçam direitos constitucionais não sejam barrados sem justificativa adequada.
Apesar do grande número de vetos derrubados, dois vetos foram mantidos pelo plenário. O veto ao projeto que estabelecia punições para quem desrespeitar entregadores de serviço delivery (PL nº 25/2025) foi mantido com 13 votos favoráveis, sendo considerado inconstitucional pelos parlamentares. O outro veto mantido foi ao projeto que cria o “Sistema Seriado-UERR”, relacionado ao ingresso na Universidade Estadual de Roraima, com 15 votos a favor da manutenção do veto, por entenderem que a competência para o tema é do Conselho Universitário da UERR.
Com a conclusão da análise, os 21 projetos com vetos rejeitados serão promulgação pela Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, transformando-os em leis estaduais.