A Cáritas Brasileira anunciou a suspensão temporária de serviços emergenciais de água, saneamento e higiene nas cidades de Boa Vista e Pacaraima, em Roraima. A interrupção, válida por 90 dias a partir de 27 de janeiro de 2025, ocorre após uma ordem executiva do governo dos Estados Unidos, que determinou a reavaliação da ajuda externa por meio do Escritório de População, Refugiados e Migração do Departamento de Estado.
Essa medida afeta diretamente o projeto WASH Orinoco: Águas que Atravessam Fronteiras, que atende migrantes e populações vulneráveis na região desde 2019.
O projeto, que já beneficiou mais de 100 mil pessoas, oferecia instalações sanitárias completas, lavanderias, fraldários e acesso a água potável, além de atividades educativas sobre higiene pessoal.
Com um orçamento anual de R$ 4 milhões financiado integralmente pelo governo dos EUA, o WASH Orinoco contabilizou, até 2024, mais de 1,1 milhão de acessos às suas instalações e o processamento de 82 mil quilos de roupas.
A decisão gera grande preocupação para a população em situação de vulnerabilidade, especialmente os migrantes venezuelanos que chegam ao Brasil em busca de melhores condições de vida.
Boa Vista, proporcionalmente, é a capital brasileira com o maior número de pessoas em situação de rua, segundo dados de 2022 do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas para a População em Situação de Rua.
Embora o projeto de segurança alimentar Sumaúma: Nutrindo Vidas não tenha sido afetado pela decisão, a Cáritas alerta para os riscos de depender exclusivamente de financiamento internacional para ações humanitárias.
Este projeto, em operação desde 2022, fornece refeições diárias a pessoas em extrema vulnerabilidade e já distribuiu mais de 1,2 milhão de refeições. O custo anual de R$ 7,5 milhões é financiado pelo Escritório de Assistência Humanitária da USAID.
A Cáritas reforça que a responsabilidade pela formulação e execução de políticas públicas de apoio à migração cabe ao governo brasileiro. Apesar dos esforços da Operação Acolhida e das parcerias com organizações humanitárias, a interrupção dos serviços evidenciou a fragilidade de depender de recursos externos.
A organização destaca a necessidade de políticas públicas sustentáveis e de um compromisso mais efetivo do governo para garantir os direitos básicos de migrantes e refugiados.
Mesmo diante das dificuldades, a Cáritas reafirma seu compromisso com os direitos humanos e a dignidade das pessoas em situação de vulnerabilidade.
Desde sua fundação, a organização atua em 12 áreas de assistência emergencial em todo o Brasil, promovendo o acesso a serviços essenciais e transformando vidas.
A suspensão do projeto WASH reforça o desafio de equilibrar ações emergenciais e políticas estruturantes para atender à crescente demanda migratória na fronteira Brasil-Venezuela.