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A recente proibição do uso de celulares nas escolas de Educação Básica em todo o Brasil marca um passo importante no enfrentamento dos impactos negativos da tecnologia no desenvolvimento de crianças e adolescentes. A nova legislação busca responder às preocupações crescentes sobre o uso excessivo de telas, uma prática que, segundo especialistas, pode trazer prejuízos significativos ao desenvolvimento cognitivo, emocional e social.
De acordo com Jéssik Custódio, psicóloga e coordenadora do curso de Psicologia do Centro Universitário Estácio da Amazônia, o uso descontrolado da tecnologia compromete habilidades essenciais, como atenção, memória e aprendizado. “A dependência tecnológica reduziu práticas que antes eram comuns e benéficas, como memorizar números de telefone. Hoje, a falta desse exercício mental resulta em uma diminuição da capacidade de armazenar informações”, explica.
O uso excessivo de telas está associado a um aumento nos níveis de ansiedade, dificuldades de interação social e até mesmo problemas no sono. Segundo a especialista, crianças que passam muito tempo diante de dispositivos digitais podem desenvolver dificuldades em estabelecer vínculos emocionais e exercitar a empatia. “Isso prejudica não só as relações interpessoais, mas também a capacidade de diálogo, tão importante para a convivência em sociedade”, afirma Custódio.
A primeira infância, período que vai dos 0 aos 6 anos, é particularmente vulnerável. “Essa é a fase em que o cérebro está em rápido desenvolvimento. Estímulos inadequados, como o uso excessivo de telas, podem trazer consequências a longo prazo, comprometendo o aprendizado e o desenvolvimento de habilidades motoras e cognitivas”, alerta.
No ambiente escolar, o uso de celulares deve ser criterioso. Quando integrados ao método pedagógico, podem enriquecer o aprendizado, mas o uso desordenado é prejudicial. Custódio elogia a nova legislação por estabelecer limites claros, ressaltando que a medida preenche uma lacuna nas políticas educacionais. “Antes, cada escola tinha suas próprias regras, mas agora há diretrizes claras para evitar que os aparelhos interfiram na dinâmica da sala de aula”, pontua.
A Associação Brasileira de Pediatria (ABP) estabelece limites de tempo para a exposição às telas, recomendando:
Custódio reforça que essas orientações devem ser acompanhadas de atividades que promovam a interação social e o desenvolvimento cognitivo. “É importante buscar o equilíbrio, incluindo atividades ao ar livre, leitura e brincadeiras que estimulem a criatividade e as relações interpessoais”, sugere.
Ela ressalta ainda que há exceções, como em casos de crianças com deficiência, onde a tecnologia pode ser uma aliada essencial para a comunicação e o aprendizado. “Nesses casos, é fundamental contar com a orientação de um profissional para adaptar o uso às necessidades específicas”, completa.
A proibição dos celulares nas escolas não visa excluir a tecnologia, mas promover um uso mais consciente e equilibrado. “A legislação fortalece os limites e incentiva uma convivência mais saudável entre o digital e o presencial. Não se trata de negar os benefícios da tecnologia, mas de garantir que ela seja usada de forma positiva e educativa”, conclui Custódio.