Roraima possui algumas particularidades interessantes — e outras nem tanto. Uma das que considero extremamente nociva para o desenvolvimento da sociedade local é o chamado "contra-jornalismo" cínico praticado por aquela que se proclama como a principal empresa de comunicação do estado.
Enquanto veículos de comunicação independentes, como este portal Roraima na Rede, entre outros, trazem à tona escândalos de grande relevância, como o super salário dos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado — que chega a R$ 1,8 milhão, mais de 40 vezes o teto salarial do Supremo Tribunal Federal (STF), fixado em R$ 44 mil — a empresa jornalística que se diz "necessária" opta pela omissão. E, quando menciona o caso, faz isso em defesa do injustificável salário. Parafraseando o meme da Internet: “que jornalismo é esse?”.
Essa mesma empresa é amplamente conhecida por se omitir em relação a denúncias consistentes e comprovadas de corrupção que envolvem o ex-deputado e ex-presidente da Assembleia Legislativa, Jalser Renier. Nas raríssimas vezes que publicou algo a respeito, retirou a matéria do ar pouco depois. Uma estratégia ardilosa para enganar o público. Isso porque o ex-deputado é afilhado do dono da empresa. “Aqui não sai nada contra o Jalser” era o recado frequentemente enviado à redação. Já em 2003, quando explodiu a Operação Praga do Egito foi assim. Eu estava lá.
Não é a primeira vez que essa empresa jornalística age em defesa de corruptos. Houve outras ocasiões em que nadou contra a corrente das boas práticas jornalísticas e preferiu aliar-se ao “lado escuro da força”. Essa conduta é tão vergonhosa quanto a desfaçatez dos conselheiros oportunistas que se apropriam sem remorso dos recursos públicos.
George Orwell dizia que “jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que você publique; todo o resto é publicidade.” Essa frase sintetiza o verdadeiro papel do jornalismo, que é atuar em favor do interesse público, frequentemente revelando aquilo que os poderosos preferem ocultar. Dessa forma, o jornalismo assume um caráter de resistência, tornando-se essencial para a transparência e a justiça. Não é, no entanto, essa a prática da empresa que se autodenomina necessária.
O jornalismo, em sua essência, tem como princípio basilar a defesa dos interesses da sociedade. O que vemos, contudo, na referida empresa é a manipulação dos fatos conforme a conveniência dos interesses econômicos e políticos. Se o contrato é vantajoso, os fatos são omitidos e as realidades, maquiadas. O exemplo mais evidente é a cobertura da Prefeitura de Boa Vista, que, segundo consta, tem contado ultimamente com um tratamento favorável, enquanto o Governo do Estado, ainda que pague vultosas somas, é tratado como adversário. Contudo, essa postura é maleável e pode mudar de acordo com as conveniências e os contratos do momento.
Joseph Pulitzer, um dos maiores expoentes do jornalismo, certa vez advertiu: “Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária e demagógica produzirá um povo tão vil quanto ela mesma.” Pulitzer enfatiza o poder de influência do jornalismo sobre o caráter social e político de uma nação, advertindo que sua missão deveria ser a de buscar e compartilhar a verdade em benefício do coletivo. Pulitzer comparava o jornalismo a um “pilar da sociedade”, sustentando e refletindo os valores de uma nação, sendo indispensável para a integridade democrática.
Essa analogia do jornalismo como “pilar da sociedade” reforça a importância de uma mídia ética e independente. Quando, ao contrário, o jornalismo assume uma postura cínica e mercenária, ele corrompe o tecido social, em vez de iluminá-lo. Como um farol apagado, perde-se a capacidade de guiar o cidadão em meio às tempestades da política e da corrupção, levando-o a naufragar em um oceano de desinformação.