Outro dia, em um café movimentado, presenciei uma cena que me fez refletir profundamente. Duas amigas estavam sentadas à mesa ao lado. Uma delas falava incessantemente, gesticulando com entusiasmo. A outra... bem, a outra simplesmente ouvia.

Não era uma escuta passiva, longe disso. Era uma escuta ativa, intensa. Seus olhos estavam fixos na amiga, sua postura inclinada ligeiramente para frente, como se quisesse captar cada palavra. De vez em quando, ela assentia ou fazia uma pequena expressão de surpresa ou empatia.

Foi então que percebi: estava testemunhando uma arte rara e preciosa - a arte de ouvir.

Em um mundo onde todos parecem estar competindo para falar mais alto, para ter a última palavra, para impor suas opiniões, a capacidade de realmente ouvir tornou-se um superpoder silencioso.

Quantas vezes, em nossas conversas, estamos apenas esperando nossa vez de falar, ao invés de realmente escutar? Quantas vezes interrompemos o outro para inserir nossa própria história, nossa própria perspectiva?

A verdadeira escuta vai além de simplesmente ouvir palavras. É sobre estar presente, sobre criar um espaço seguro onde o outro pode se expressar livremente. É sobre suspender, mesmo que momentaneamente, nossos próprios julgamentos e preconceitos para realmente entender o que o outro está dizendo - e, mais importante, o que está por trás das palavras.

Lembro-me de uma conversa que tive com meu avô pouco antes de ele falecer. Ele não disse nada de extraordinário naquele dia, apenas compartilhou memórias de sua juventude. Mas eu escutei. Escutei com todo meu ser. E naquele momento de escuta profunda, senti que estava recebendo um presente precioso - não apenas suas histórias, mas uma parte de sua essência.

A escuta é um ato de amor. Quando realmente ouvimos alguém, estamos dizendo, sem palavras: "Você é importante. Sua experiência importa. Você merece ser ouvido."

É também um ato de coragem. Pois ouvir verdadeiramente significa estar aberto a ser mudado pelo que ouvimos. Significa estar disposto a questionar nossas próprias certezas, a expandir nossa perspectiva.

Então, que tal um desafio? Na próxima conversa que você tiver, tente praticar a escuta profunda. Não pense no que vai dizer em seguida. Não julgue. Apenas ouça. Observe não apenas as palavras, mas o tom de voz, as expressões faciais, a linguagem corporal. Tente entender não apenas o que está sendo dito, mas o sentimento por trás das palavras.

Você pode se surpreender com o que descobre. Pode ser que você ouça, pela primeira vez, o que alguém próximo vem tentando lhe dizer há anos. Pode ser que você descubra uma nova perspectiva que nunca havia considerado antes.

No silêncio da escuta, uma sinfonia de compreensão e conexão pode emergir. Uma sinfonia capaz de transformar não apenas nossas relações, mas nós mesmos.

Então, da próxima vez que alguém lhe disser algo, lembre-se: o maior presente que você pode dar a alguém é sua atenção plena, sua escuta compassiva. Pois no fim, todos nós temos uma necessidade profunda e fundamental: a de sermos verdadeiramente ouvidos.

Luiz Valério é jornalista, escritor e podcaster.

----------------------------------

Gostou da crônica? Então leia meu e-book Cônicas Para Despertar Ternura, disponível na Aamazon.