Ontem, conversava com uma colega de trabalho sobre sua crise de ansiedade na noite anterior — muita inquietação, palpitações no peito. Infelizmente, situações como essa têm sido mais comuns do que se imagina. O teólogo e escritor William Ralph Inge disse certa vez que “a ansiedade é o interesse que pagamos sobre um problema antes que ele venha a existir”.
A ansiedade é uma reação natural do nosso organismo, mas torna-se prejudicial quando toma proporções exageradas. E aqui eu pergunto: como anda sua saúde mental, caro leitor? Você tem se cuidado devidamente? Esses questionamentos podem soar invasivos, mas refletem uma realidade preocupante que todos vivemos neste período pós-pandemia.
Herdamos um comportamento inquieto e ansioso, resquício dos dias angustiantes de enfrentamento do SARS-CoV-2. Refiro-me à onda de ansiedade e depressão que assola tantas pessoas neste “novo normal”. Consultórios estão repletos de pessoas de todas as idades, buscando ajuda para lidar com crises que parecem intermináveis.
Nas escolas de Roraima, não é raro encontrar crianças, adolescentes e até professores lidando com crises de ansiedade. No entanto, a maioria desses espaços carece de psicólogos para dar suporte. O sistema educacional, com uma equipe insuficiente para atender a crescente demanda por apoio psicológico, enfrenta o desafio de cuidar de um público que não para de crescer.
Durante a pandemia, como jornalista, entrevistei diversos profissionais da saúde mental, que já previam uma epidemia de depressão e ansiedade para os anos seguintes. E, infelizmente, é exatamente o que vemos hoje. Naquele período em que nos isolamos, o medo, a incerteza econômica e as mudanças de rotina criaram o cenário perfeito para o aumento desses distúrbios.
É importante lembrar que a ansiedade é uma resposta natural do corpo ao estresse ou ao perigo. Ela traz uma sensação de alerta, de preocupação, mas, quando se torna intensa e constante, afetando nossa rotina e bem-estar, pode evoluir para um transtorno. Tenho ouvido relatos de pessoas sobre crises terríveis que as incapacitam para o trabalho, levando a afastamentos frequentes. Por isso, buscar ajuda ao menor sinal de que algo não vai bem é essencial.
A Covid-19 transformou nossa relação com a ansiedade — o medo do contágio, as mudanças no trabalho e nas relações sociais potencializaram esse distúrbio psicológico. A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou que a pandemia aumentou em 25% os casos de ansiedade e depressão no mundo. Embora o dado não seja específico do Brasil, reflete uma realidade que nos afeta profundamente.
Muitas pessoas tentam esconder seus sintomas, lutando para parecer “bem” sob a pressão social. A exposição constante às redes sociais e ao excesso de informações é um combustível para a ansiedade, especialmente agora, quando somos bombardeados por comparações e mensagens incessantes. Em outro texto, já escrevi sobre como vivemos num mundo saturado de estímulos que sobrecarregam nossa mente.
Precisamos fazer um detox mental. Desligar os smartphones, afastar-nos das redes sociais e buscar experiências reais que nos tragam bem-estar. Ler um bom livro, aproveitar o convívio familiar, meditar e, claro, buscar a ajuda de profissionais são passos valiosos para enfrentar esse novo mal do século. Eu mesmo já procurei auxílio psicológico para lidar com a ansiedade e posso dizer: admitir essa necessidade não é fraqueza.
Lembre-se de que “a mente é um lugar poderoso. Quando a preenchemos com pensamentos positivos, nossa vida começa a mudar.” Se sentir que a ansiedade se manifesta de maneira incomum, procure ajuda. Entenda que não precisa enfrentar isso sozinho. Para encerrar, deixo as palavras de Nelson Mandela: “A coragem não é a ausência do medo, mas o triunfo sobre ele. O homem corajoso não é aquele que não sente medo, mas aquele que supera esse medo.”
Luiz Valério é jornalista, escritor e podcaster.
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