A recente convocação do embaixador venezuelano no Brasil, Manuel Vadell, para consultas é uma nova fase de tensão entre os governos do Brasil e da Venezuela, países que compartilham uma longa fronteira e uma complexa dinâmica migratória. O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela manifestou profundo descontentamento com declarações do assessor do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, para assuntos internacionais, Celso Amorim, alegando que ele age como “mensageiro do imperialismo norte-americano.” Amorim, segundo o comunicado, tem feito “juízos de valor” sobre questões internas da Venezuela, o que foi classificado por Caracas como “agressão constante”.

Para Roraima, um estado onde milhares de migrantes venezuelanos buscam refúgio e outras centenas entram todos os dias, essa tensão diplomática pode ter reflexos diretos. A Venezuela considera as declarações de Amorim uma ameaça à estabilidade das relações bilaterais, enquanto o Brasil, por sua vez, reafirma uma postura crítica em relação ao governo de Nicolás Maduro, especialmente sobre o processo eleitoral que o manteve no poder. Esse cenário de desentendimento contrasta com os esforços regionais de acolhimento e apoio humanitário, como a Operação Acolhida em Roraima, que oferece suporte aos migrantes venezuelanos.

Em audiência pública na Câmara dos Deputados, Amorim reiterou a postura brasileira de não reconhecer o processo eleitoral que concedeu a Maduro mais um mandato, pontuando que a falta de transparência nas eleições coloca em dúvida a legitimidade do governo venezuelano. Segundo ele, a ausência de divulgação das atas eleitorais e o atraso na divulgação dos resultados dificultam a aproximação diplomática.

A convocação de Vadell para consultas, embora simbolize descontentamento profundo, ainda não é uma ruptura oficial das relações diplomáticas. Caracas, contudo, demonstra frustração também com a recente exclusão da Venezuela dos Brics, bloco econômico liderado pelo Brasil e outras grandes economias emergentes. O ministro de Relações Exteriores da Venezuela chegou a classificar a decisão como um enfraquecimento da posição do Brasil no cenário latino-americano.

A situação reflete as dificuldades na reconciliação entre o Brasil e a Venezuela em um momento de alta sensibilidade para a política externa brasileira. Luiz Inácio Lula da Silva tem buscado equilibrar a manutenção de laços regionais e uma posição crítica sobre a situação democrática na Venezuela. Para os roraimenses, esse impasse político é uma realidade próxima, pois impacta diretamente o fluxo de migrantes e os serviços de acolhimento que se adaptam continuamente à chegada de venezuelanos em situação vulnerável.

Esses episódios indicam que as tensões podem influenciar tanto o relacionamento diplomático quanto as condições de acolhimento aos venezuelanos no Brasil, especialmente em Roraima.