Tick-tock, tick-tock. O relógio na parede parece zombar de mim enquanto corro de um compromisso para outro. Olho para o meu smartwatch: três e-mails não lidos, duas mensagens no WhatsApp, uma ligação perdida. Respiro fundo. Ou pelo menos tento.
Quando foi que o tempo se tornou nosso maior inimigo? Quando começamos a medir nossas vidas não em anos, meses ou dias, mas em deadlines, metas e to-do lists?
Outro dia, peguei-me correndo para pegar o lotação que me leva ao Centro da cidade todos os dias. Literalmente correndo, como se minha vida dependesse disso. Esbarrei em pessoas, quase derrubei meu café, tudo para chegar... onde mesmo? Ah sim, a mais uma reunião que poderia facilmente ter sido um e-mail.
É curioso como, em nossa ânsia de "aproveitar cada segundo", acabamos por não viver realmente nenhum deles. Estamos sempre um passo à frente, planejando o próximo movimento, a próxima tarefa, o próximo objetivo. E nessa dança frenética, perdemos o compasso da vida.
Lembro-me da minha avó, Rosa, sentada em sua cadeira de balanço, observando o mundo passar pela janela. Na época, eu a achava "distraída". Hoje, percebo que ela tinha descoberto um segredo que muitos de nós esquecemos: o valor do tempo lento, do ócio, da contemplação.
A verdade é que criamos uma sociedade que valoriza a ocupação constante. "Estar ocupado" tornou-se sinônimo de sucesso, de importância. Mas a que custo? Quantos momentos preciosos deixamos escapar enquanto corremos de um compromisso para outro?
Talvez o verdadeiro luxo dos nossos tempos não seja um carro caro ou uma casa grande. Talvez seja o tempo. Tempo para respirar, para pensar, para simplesmente ser.
Então, da próxima vez que você se pegar correndo contra o relógio, pare por um momento. Respire. Olhe ao seu redor. Pergunte-se: para onde estou correndo? E mais importante: por quê?
Pois no final das contas, a vida não é medida pelo número de respirações que damos, mas pelos momentos que nos tiram o fôlego. E esses momentos, ironicamente, costumam acontecer quando paramos de correr e nos permitimos simplesmente estar presentes.
O relógio continua seu tick-tock implacável. Mas agora, quem sabe, possamos aprender a dançar no nosso próprio ritmo.
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