Outro dia escrevi sobre a brevidade da vida. O texto refletia sobre como nossa passagem por este plano terreno é rápida, fugaz. Ontem, por volta do meio-dia, meu celular tocou, e seu toque me pareceu meio desesperado, mesmo sendo o alerta de chamada de todos os dias. Do outro lado da linha, minha mulher, a Lu, me avisava, sobressaltada, da morte de Fernanda, a irmã de Fernando Júnior, um amigo nosso em comum. Fiquei sem palavras por alguns segundos.
Diabética e tendo sido submetida a uma cirurgia para amputação de um membro recentemente, a jovem Fernanda, de apenas 42 anos, teve outras complicações de saúde, como os pulmões encharcados de água, seguidos de uma pneumonia. Ela foi entubada na segunda-feira, 21 de outubro. Não resistiu e faleceu ontem, por volta das dez horas da manhã. Por sermos amigos da família, acompanhamos de perto a agonia daquela moça, que agora será mais uma entre os bilhões de estrelas a brilhar no céu. Sua partida precoce deixa um vazio no seio familiar. Mais tarde, o vazio se tornará uma lembrança dolorosa e, depois, talvez, uma conformação.
A vida é mesmo assim, feita de partidas e chegadas. Isso me traz de volta ao tema: a brevidade do existir. Nós não podemos perder mais tempo com a infelicidade, com preocupações sem sentido. Precisamos transformar os momentos difíceis em oportunidades de aprendizado e autoaperfeiçoamento. Devemos praticar a gratidão por tudo o que somos, temos e podemos fazer. Sim, a gratidão gera felicidade.
Digo mais: precisamos aproveitar cada momento da vida para estarmos presentes, de verdade, na vida das pessoas que são especiais para nós. Porque o depois não existe. Só o agora importa. Sabe aquele abraço que você quer dar em alguém, mas ainda não deu, seja por timidez ou sob a justificativa de que não tem tempo? Não adie mais. Abrace! Sabe aquele “eu te amo” que está pedindo para ser verbalizado, mas seu orgulho não deixa? Permita que ele saia da sua boca junto com um sorriso e veja o impacto positivo que vai causar. Não deixe para amanhã. Afinal, o amanhã é incerto. Nós só temos, de concreto, o hoje, o agora.
Como disse o escritor Jorge Luis Borges, “nada é tão precioso quanto o que se perde e, entre todas as perdas, nenhuma é mais angustiante do que a perda do tempo." Então, caro leitor, não perca mais tempo. Faça o melhor por você agora. Ofereça sua melhor versão para sua esposa e filhos, para sua família e amigos, hoje mesmo. Ame intensamente! Viva tudo o que tem que ser vivido. Pois isso é tudo o que temos. Infelizmente, muitas pessoas perdem muito tempo com discussões infrutíferas, com disputas sem sentido, com uma corrida incessante pelo poder. A verdade é que precisamos nos despojar desses penduricalhos impostos pelo nosso ego e vaidade, e passarmos a viver uma vida minimalista, baseada em relações sinceras e honestas com o próximo, fundamentadas no amor, na cooperação e na confiança mútua. Como já disse outro dia também, precisamos nos reumanizar.
Leon Tolstói, um dos mais célebres escritores russos, amplamente reconhecido por sua profunda compreensão da condição humana, da moralidade e das complexidades da vida, disse em seus Diários que "a vida é apenas um momento, um breve espaço de tempo. O que é a vida de qualquer homem, se não um momento?". Nada mais acertado. Precisamos ter essa compreensão para vivermos a vida de forma mais afetiva e efetiva. Aproveite cada minuto do seu tempo para aprender, para se aperfeiçoar, para amar, para ser mais do que ter, pois assim você poderá colher da vida os frutos mais saborosos que ela nos oferece a todo momento.
Em homenagem à jovem Fernanda, para quem a areia da ampulheta escorreu mais rápido do que o esperado, concluo esta crônica com versos de Emily Dickinson: "Porque eu não pude parar para a morte. Ela gentilmente parou por mim; A carruagem levou apenas a nós dois, e a imortalidade."
------------------------
Gostou da crônica? Então leia meu e-book Cônicas Para Despertar Ternura, disponível na Aamazon.