O Dia do Professor já passou, mas ainda assim decidi escrever esta crônica sobre esses profissionais que revolucionaram, e continuam a revolucionar, tanto a minha vida quanto a sua. Quem não tem um professor de quem se lembra com carinho? Quem não teve um mestre decisivo nas escolhas que fizemos e que determinaram o caminho que seguimos como profissionais? Eu tive alguns. E me recordo com muito carinho de todos eles.
A motivação para falar sobre isso hoje foi a notícia, recebida tardiamente ontem à noite, da morte do meu querido professor Flávio Queiroz. Ele lecionava Literatura Portuguesa na Universidade Regional do Cariri (URCA), onde me formei no curso de Letras. O mestre Flávio era apaixonado pela poesia de Fernando Pessoa e foi ele quem me inspirou a escrever minha monografia sobre esse poeta fenomenal. Minha pesquisa abordou a fecunda criação dos heterônimos de Pessoa, o mestre em criar personalidades múltiplas.
Professor Flávio, que faleceu no dia 2 de setembro, teve um papel decisivo na minha escolha pelo jornalismo. Foi sob sua orientação e direção que me iniciei no fantástico mundo das notícias. Ainda no Ensino Médio, ele percebeu minha inclinação para as Letras e me desafiou a ser o editor e repórter (o único) do jornal estudantil da Escola de Segundo Grau Padre Murilo de Sá Barreto, da qual ele era o diretor. Juntos, mantivemos o jornal por um ano e alguns meses.
Apesar de ser um periódico estudantil, foi lá que comecei a causar as primeiras dores de cabeça aos políticos relapsos. Rsrsrs. O ex-prefeito Manoel Salviano, de Juazeiro do Norte, que o diga! De vez em quando, o professor Flávio me chamava para pedir mais comedimento, pois o prefeito não gostava das críticas que eu fazia à sua gestão na coluna que escrevia para o nosso “jornalzinho”. Flávio Queiroz faleceu devido a uma obstrução nos rins associada a um tumor. Que Deus o tenha, professor.
Falando em professor, não posso deixar de lembrar da Dona Lili, minha primeira professora fora de casa. Foi ela quem concluiu meu processo de alfabetização, iniciado por minha madrinha de batismo, Dona Maria Eva (Madrinha Lia). Dona Lili despertou em mim o gosto pela escrita. Ela costumava deixar longos textos no quadro para que eu copiasse enquanto terminava o almoço. Somente depois disso, começava nossa aula. Foi ela quem recomendou à minha mãe que eu avançasse algumas séries, pois, em suas palavras, eu era “muito inteligente e adiantado” para cursar a primeira série. Dona Lili era um amor de pessoa.
Mais tarde, na Faculdade de Letras da URCA, onde reencontrei o professor Flávio Queiroz, conheci outros dois mestres fundamentais na minha formação literária e como jornalista. Um deles foi a professora Socorro Martins, nossa querida Dona Socorro. Parecia saída de um dos muitos livros que ela nos recomendava. Com seu coque no alto da cabeça e suas saias largas, lembrava aquelas avós carinhosas que, cercadas de netos, começam a contar histórias que acendem a nossa imaginação. Um de seus livros preferidos era A Dança dos Cabelos, de Carlos Augusto Viana, sobre o qual falava em nossas aulas de Literatura Brasileira.
Outro mestre inesquecível foi João Hilário Coelho Correia, ou simplesmente João Hilário, nosso educadíssimo professor de Inglês. Mais do que um professor de línguas, ele foi meu mentor na comunicação. Conversávamos muito sobre meu sonho de me tornar um comunicador influente. Eu dava meus primeiros passos no rádio esportivo e tinha o prazer de tê-lo como ouvinte e crítico sincero. Foi dele que recebi as orientações mais valiosas que me ajudaram a atingir o estágio de desenvolvimento profissional em que estou hoje. João Hilário, um dos radialistas mais influentes e competentes da nossa Região do Cariri, com seu jeito gentil, me ensinava até como usar a caneta no bolso de maneira elegante. Era um verdadeiro gentleman. Nunca esquecerei seus ensinamentos.
Corta para Roraima. Aqui, tive a grata satisfação de ser aluno da Professora Vângela Morais, no Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Vângela é um daqueles seres que são ternura em forma de gente. Fina, erudita, carismática, nos dava aula com sua voz calma e suave como quem dá conselhos a filhos amados. Dona de um texto impecável, Professora Vângela sempre nos inspirou a contar boas histórias. Suas aulas eram sempre as mais esperadas e, mesmo quando era o último tempo de aula, todos ficávamos para ouvi-la. Ela conseguia essa proeza.
E ao voltar no tempo, mais uma vez, lembro também da Dona Zilda, minha professora das séries iniciais. Outro ser iluminado, ela me deu toda a atenção, me incentivou a ler e a escrever, e sempre dizia que eu tinha potencial. A todos vocês, meus mestres, deixo aqui meu amor e o meu respeito, estejam onde estiverem.
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