Meu pai faleceu de cirrose hepática aos 54 anos. É curioso perceber que daqui a quatro anos eu terei a mesma idade que ele tinha, quando partiu deste plano. O tempo voa. Lembro-me como se fosse hoje do fatídico dia em que tive que pegar seu corpo rígido, da pedra do necrotério do hospital, para colocar no caixão. Eu tinha 21 anos de idade. Papai morreu sem ver a chegada da minha filha, Teresa Júlia, a este mundo. Partidas e chegadas. Assim é a dinâmica da vida.
A finitude da vida. Este é um dos assuntos sobre os quais me pego refletindo com frequência ultimamente. Não por medo da morte, muito pelo contrário. Há muito compreendi que a vida é uma passagem por este mundo. Apenas isso. E nossa missão é fazer com que essa nossa passagem por aqui valha a pena, sendo útil aos outros e vivendo com sabedoria e dignidade. Precisamos aceitar a verdade de que não existe ninguém melhor do que ninguém. E não importa a soma de dinheiro que se tenha na conta bancária. O destino será o mesmo para todos, quando chegar a hora de cada um.
Penso que o que importa, mesmo, é tentarmos viver a vida da melhor forma possível. E essa “melhor forma possível” depende do que importa para cada um. Porém, uma coisa serve para todos: perder tempo remexendo em mágoas do passado ou ancorado em fatos negativos ou ainda tentando adivinhar o futuro é infrutífero. Mais vale buscarmos aproveitar cada momento da vida, estando completamente presente no agora, que é o que importa. Devemos oferecer às pessoas que amamos a melhor versão possível de nós mesmos. Afinal, a vida é breve como um sopro.
E uma vez escorrida a areia da ampulheta da vida de cada um, não haverá tempo para mais nada. Portanto, não perca a oportunidade de amar intensamente e deixar claro seu sentimento com atos e palavras. Choros e homenagens póstumas de nada adiantam. O que vale é o agora. Faça o que tem que ser feito pelas pessoas que lhes são importantes agora e diga o que precisa ser dito enquanto há tempo.
E porque estou escrevendo esta crônica nesse tom? Porque por mais que a ciência e a medicina tenham evoluído e aumentado a nossa expectativa de vida, há ainda a imprevisibilidade das pandemias e epidemias, como a Covid-19 ou essas viroses estranhas que nos acometem todos os dias. Quantas pessoas sucumbiram a essas mazelas? Pessoas jovens, inclusive. Eu mesmo perdi amigos da minha idade e até mais novos que eu, vítimas da pandemia que assombrou o mundo a partir de 2020. O mundo anda por demais estranho. E, mais do que nunca, devemos valorizar a vida. A nossa e a das pessoas que nos são caras.
Por esses dias ando preocupado com a minha mãe, por exemplo. Neste ano de 2024, quando completou seus 80 anos de vida, ela foi atropelada por uma motorista irresponsável, quando ia para sua missa sagrada do domingo. Já faz alguns meses. Como consequência, sofreu fraturas no joelho esquerdo e teve que colocar dez pinos para poder voltar a andar, ainda que com muita dor. Agora, ainda andando com dificuldade, ela se mostra meio tristonha. Nunca quis depender de ninguém para nada. E o pior, anda dizendo que a minha avó, sua mãe, morta há décadas, a está chamando, veio buscá-la. Sinais de senilidade. É doloroso ver a pessoa que você mais ama nesse estado. Tudo que quero é que ela tenha uma velhice saudável e com algum conforto.
Tudo isso me faz refletir sobre a fugacidade da vida. E aumenta minha certeza e determinação de que devo dar o melhor de mim agora, pois o depois é absolutamente incerto.
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